Sara Carvalhal

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22 Mar 2020
Os Dias no Divã

deixem a capuchinho em paz

Deixem a Capuchinho em paz!

Por estes dias a Capuchinho Vermelho tem uma nova dificuldade e enfrenta a ameaça de desemprego: está perante a possibilidade de ser expulsa do mundo dos contos de fadas admissíveis às nossas crianças.

A Capuchinho é de facto uma menina, mas de todo, não me parece à mercê da salvação de um menino. Não vos parece que estão a desvalorizá-la?

A história do Capuchinho Vermelho, como todos os contos de fada, é uma história que abre caminho às crianças para viajarem por um caminho de novas possibilidades, de se imaginarem ou identificarem com as personagens, pensarem se estão de acordo ou se fariam diferente. Os contos de fadas estimulam as crianças a expandirem o seu pensamento, a pensarem pela sua cabeça e, por conseguinte, a crescerem.

A história do Capuchinho Vermelho fala realmente sobre uma menina que a dada altura é salva pelo caçador, mas não só! A Capuchinho Vermelho, a meu ver, é uma história de autonomia. É uma história muito comum nos meus dias, em que crianças a contam, dramatizam, desenham e transformam para colocar ao seu jeito. De todas as vezes, aquilo que ensaiam através dela, é o atrevimento da Capuchinho que gostariam ou tentam ter, de poder pensar de forma diferente da mãe, dos pais, dos outros. É uma possibilidade de poderem olhar para as suas próprias ideias e confiar nelas, em si.

A mãe é clara na história: “cuidado com o caminho, vai por ali, por onde te digo.”. A Capuchinho, distraindo-se com as flores, algo que lhe dá prazer, acaba por fazer diferente dela e, como previsto pela mãe, encontrou um caminho menos seguro e com novas dificuldades.

Em defesa da Capuchinho queria lembrar que ela de facto não soube em quem confiar no caminho, arranjou um problema grande à avó que não lhe bastava estar doente ainda foi engolida pelo lobo, mas chegou a casa dela, berrou a plenos pulmões e conseguiu a ajuda que necessitava para resolver o problema! Atrevo-me a dizer que a Capuchinho não só fez uso dos recursos que já tinha para tocar vida, como adquiriu novos.

Foi um caçador que a salvou?
Um caçador do sexo masculino?
Que compete com o lobo?
Corajoso?
Violento?

Ora ainda bem!

A Capuchinho encontrou-se numa situação que sozinha não conseguia solucionar e pediu ajuda. Ainda bem que apareceu alguém que a pode ajudar. Na vida, as pessoas precisam de ajuda muitas vezes. Não são incompetentes por isso. Não são fracas ou pouco corajosas.

A Capuchinho é uma rapariga prestável e preocupada – quis levar o lanche à avó; é trabalhadora – ela não deixou o lanche a cargo da mãe, fez com ela; pensou pela própria cabeça e fez-se ao caminho sozinha – é autónoma. Arranjou problemas? Sim, é um facto, mas a vida tem problemas. Percebeu que não pode confiar em todas as pessoas de igual forma? É verdade. Foi capaz de reconhecer as suas limitações e pedir ajuda? É duro, mas necessário.

Parece-vos pouco?

Deixem a Capuchinho em paz, a lanchar que foi longo o caminho.

Para saber mais sobre a situação actual da Capuchinho Vermelho:
https://www.jn.pt/mundo/interior/escola-de-barcelona-retira-livros-infantis-com-mensagens-sexistas-10786257.html

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São frases que nem sempre são claramente expressas e quanto mais proferidas em surdina, maior o ruído que deveriam fazer. 

O suicídio é mais comum do que se possa pensar e quando surge esta dúvida, o que fazer perante uma situação destas os procedimentos são invariavelmente os mesmos e talvez pouco divulgados:

✏️Marcar consulta com um médico pedopsiquiatra ou psiquiatra de acordo com as idades; não tendo conhecimento de nenhum, fale com um médico de clínica geral e familiar ou da sua referência;

✏️ Numa situação limite, numa situação de tentativa de suicídio ou dificuldade em controlar esse impulso, recorrer ao hospital;

✏️ Fazer psicoterapia. 

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