Sorrimos ou disfarçamos?

Numa janela como outra qualquer, há um gato. Branco, grande e felpudo, senta-se a fitar o pouco movimento que há na rua. Parece quase sorrir ali ao sol, empinando o nariz à vida para de seguida, pender por momentos. Em lugar do gato estivesse uma pessoa, o prazer daquele momento seria de súbito disfarçado, como se de um momento embaraçoso se tratasse.

Indiferente ao contexto actual, por aqui se pode ver como a vida continua.

As pessoas olham mais pela janela do que saem pelas portas e deparam-se mais com o que vai dentro delas, do que anteriormente.

Encontrar partes de nós é um encontro como qualquer outro: nuns dias uma alegria ou uma surpresa boa, noutros um “tudo bem?” retórico a que se segue um momento de ansia se o outro parece que vai responder.

William James dizia que “Quando duas pessoas se encontram há, na verdade, seis pessoas presentes: cada pessoa como se vê a si mesma, cada pessoa como a outra a vê e cada pessoa como realmente é.”

Por estes dias, estar por casa significa um “overstay” de nós connosco, convivendo cada um com as suas partes e diferentes visões de si. Acresce a este o desafio de adaptação das estratégias a que recorríamos no dia-a-dia e que nos organizavam.

Sejamos bondosos connosco, abraçando cada momento na certeza de que este não é um trabalho que se faça num ou dois dias, mas com o tempo e, havendo essa vontade, com um psicoterapeuta.

Resta ir respondendo à questão: sorrimos ou disfarçamos quando pendemos?