Onde está a felicidade?
“Onde está a felicidade? Ninguém sabe onde ela pára ou onde se pode encontrar. Há quem diga que não está em nenhum lugar e que simplesmente acontece. E, no entanto, em algum sítio há-de estar, não lhes parece? Certo é que, às vezes, está tão perto, tão à vista, que nos passa despercebida e, outras vezes, tão distante, tão escondida nesse tal lugar, que uma vida não chega para lá chegar.
Esta é a história do Senhor Pascoal, que vivia desde menino numa aldeia pequenina, à beira-mar. Era um belo sítio para se morar, já se vê, e ele sentia-se bem, mas faltava-lhe qualquer coisa, não sabia o quê. E essa qualquer coisa, achava ele, era a felicidade.
Fez então as malas e saiu à procura dela. Foi de aldeia em aldeia, de vila em vila, de cidade em cidade, e encontrou tudo o que procurava, tudo menos a felicidade
Decidiu então partir para mais longe. E foi assim que deu várias voltas ao mundo e conheceu cada recanto de tudo o que já existia sobre a Terra, dos bosques da Noruega às montanhas do Japão. E viu coisas de pasmar, a felicidade é que não.
Mesmo assim, continuou a procurá-la, viajando sem parar, sim, porque em algum sitio ela havia de estar.
E estaria? Já vamos saber. O tempo, como sabem, passa a correr e, um dia, o Senhor Pascoal percebeu que estava a envelhecer. Tinha os cabelos brancos, as pernas fracas, os ossos doridos, a vista cansada. Andara muito nesse dia e parou em frente de uma velha casa abandonada. Os vidros das janelas estavam partidos, a poeira invadira quartos e salas, o mato cobria o jardim.
Ele olhou para aquilo e pensou assim: “Nesta casa desprezada e sem dono, vou construir a minha felicidade”.
E consertou o telhado, pôs vidros nas janelas, pintou as paredes, cuidou do jardim.
– Agora sim – disse ele por fim. – Aqui está um bom sítio para se morar.
Sentou-se então num sofá da sala, em frente à lareira, a descansar.
“Que bem eu me sinto”, disse para si mesmo. E percebeu, então, que aquela estranha sensação de bem-estar era esse não sei quê que ele tanto procurara: a felicidade. Estava ali.
– Finalmente encontrei-a – gritou o Senhor Pascoal, muito entusiasmado.
Estava tão contente que se pôs aos saltos e veio para a rua festejar, esquecido já da sua idade. Reparou então que estava na aldeia de onde partira há muitos anos e que aquela casa era a sua própria casa, a mesma que ele abandonara para procurar a felicidade.”
Álvaro Magalhães, “100 histórias de Todo o Mundo”.