chego ao teste e dá-me uma branca

“Eu estudei, eu sei a matéria, chego ao teste e dá-me uma branca!”

E os pais, de cabelos em pé, não sabem o que fazer.  Estiveram muito próximos dos filhos, estudaram com eles, pagaram explicações extra e quando fizeram perguntas viram que eles sabiam responder.

Como é que isto pode acontecer?

Talvez imbuída no espírito do final do período escolar, o valor das notas tem andado muito presente no meu pensamento.

Arrisco-me a dizer que nas últimas semanas, pais e filhos, alunos e encarregados de educação, de um modo geral, têm andado às voltas com avaliações e o impacto delas não só no final do período, mas no futuro dos jovens.

Que impacto têm as notas no futuro dos jovens?

A escola é, hoje em dia, um lugar com equipas sobrecarregadas, onde os alunos passam grande parte dos seus dias. Muito embora se pretenda que a educação seja dos pais, é inegável que os alunos passam cada vez mais tempo em actividades e tempos lectivos do que com os seus pais em casa. Indo mais longe, diria que hoje em dia, a escola é um local onde os professores com grande esforço e empenho quase fazem milagres, não de transformar água em vinho – até porque seria proibido -, mas de fazer daqueles tempos lectivos, momentos de aprendizagem para todos.

Ao longo dos anos, a tendência parece ser a de aumentar o número de horas de aula, o número de actividades extracurriculares e o número de explicações. Cada vez mais cedo as crianças são avaliadas e começam a ser alvo de pressão para um bom desempenho. Esta situação, a meu ver, distorce o verdadeiro valor da educação e faz com que as crianças e pais sejam empurrados para uma cultura de passagem de ano e notas altas nos testes, em vez de aprendizagens que preparam crianças e jovens para o seu futuro.

Até aos seis anos, existem muitas competências a serem desenvolvidas e marcos fundamentais do desenvolvimento a serem alcançados. Uma criança que não brinca, uma criança que não faz de conta, não desenha, não se expressa pelo corpo através de artes ou actividade equivalente, é uma criança que tem grande probabilidade de adoecer.

Não ignoro claro está, o facto das notas serem muito importantes quando falamos de entradas na universidade ou elaboração de currículos para concursos, mas o facto é que muito mais do que números que os marcam, o valor de uma nota significa a existência de uma oportunidade que se agarrou ou não. São meios para chegar a um fim e não um fim em si mesmas. Aprender deveria ser uma actividade prazeirosa e um meio para alcançar objectivos pessoais e/ou profissionais.

Quando as notas falham, com facilidade podemos imaginar os alunos a terem de estudar mais, com aulas extra, com explicações e até mesmo mais horas de estudo com os pais.

Mas por que motivo falham as notas? Por que motivo há “brancas”?

Em muitos casos – e ai, sem dúvida, os professores saberão melhor que eu – o estudo poderá ser insuficiente ou ineficaz, mas em muitas situações e, em particular, no caso das “brancas”, estudar demasiadas horas poderá ser contraproducente.

Pela minha experiência, quando surge “uma branca”, a tendência é a de aumentar o número de horas de estudo. Na verdade, o que acontece muitas vezes é encontrarmos os jovens frente aos livros exaustos sem se permitirem descansar e quando é tempo de descansar não o fazem com a culpabilidade de saberem que há qualquer coisa, na sua ideia, que deveriam ter estudado e ainda não o fizeram. Com esta ideia na mente, os jovens não estudam, nem descansam. Quanto mais tempo passam neste limbo, menor é o tempo que estão com os pais, pais que talvez pudessem mostrar-lhes todas as conquistas importantes que já vão tendo, que estão ali ao lado deles, independentemente daquela avaliação, para pensar o que aconteceu e como poderão fazer melhor e para simplesmente estar.

Uma avaliação não expressa o valor pessoal de um aluno, nem tão pouco a qualidade do empenho dos pais. Uma avaliação é a expressão daquele momento do aluno e merece ser pensado para além de um valor quantitativo.

Fotografia: Vivian Maier.