Sara Carvalhal

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22 Mar 2020
Os Dias no Divã

Dizer “Não” em três passos

Uma das grandes tarefas dos pais é ajudar os pequenitos a ordenar o seu mundo: dar sentido
ao que os rodeia, mostrar como se relacionam com os outros, como é estar no lugar do outro,
quais os limites que a vida lhes vai impondo.

Durante os primeiros tempos da vida das crianças, mães e pais desdobram-se em estratégias para conhecer e ir ao encontro do bebé. Aos poucos, começam a conhecer-se e a entender-se numa linguagem por eles partilhada, a criança cresce e dá os primeiros passos em direcção à sua autonomia. Começa a falar, gatinha, caminha, muda a alimentação passando a comer como todos lá em casa e as brincadeiras vão sendo cada vez mais ricas.

Um belo dia…

– Mas eu QUERO!
– Só um bocadinho!
– Quero chegar!
– Estou farta de dormir!
– Sopa não!
O sol que brilhava no céu esconde-se a medo e surge uma pequena trovoada.Entre pingos de chuva, perceba-se o mais importante: a criança expressa a sua vontade, os seus desejos e as suas ideias. Aos pais cabe a difícil tarefa de mostrar que a sua vontade, os seus desejos e as suas ideias não são únicas no mundo, mas também de ajudar a que estas diferenças possam coexistir e que são algo bom. Isto é, não se pretende silenciar desejos e ideias, mas ajudá-los a ouvir as dos outros também.
Esta fase a que muitos se referem como “terríveis” dois, três ou quatro anos, mais não é que a resistência a este passo importante do crescimento. Não se trata de um conflito pessoal com os pais, por mais aparatosa que a birra possa ser. Repare, a vida corria às mil maravilhas até aqui: a criança tem fome come, tem sono dorme, berra com o rabinho sujo e a mãe troca a fralda… 
– Não? Que ideia é essa agora? – e eis que ela chega sem avisar. Senhores e senhoras, apresentamo-vos a Birra!

E como se contém então uma birra?

As palmadas, os berros e os castigos surgem sempre nesta discussão, mas fazem-me sempre pensar em três ideias.
A primeira ideia é a de que não pontuar situações que necessitam de ser pontuadas pode ampliar o problema. Se uma criança dá um pontapé no pai e ele não diz nada ou ri, a ideia que transmite é a de que pode, não faz mal.
A segunda ideia, remete-me para o significado das palmadas, berros e castigos para as crianças. O que elas vêem é que os pais ficam furiosos quando elas não fazem o que os pais querem. E o que querem os pais?  Que elas cresçam com medo de lhes desobedecer ou a saber relacionar-se com os outros? 
Por fim, penso no gosto amargo de um grito ou de uma palmada. Quando uma criança faz uma grande birra, com muitos gritos, pontapés e drama de mão na testa, mais vezes do que as que gostam de admitir, os pais respondem com gritos e palmadas. Nestas circunstâncias, penso: não estarão os pais a responder à birra… em espelho? Não haverá uma parte dentro deles que quer, porque quer, que eles obedeçam? 
Mais uma vez, as birras não são um conflito pessoal com os pais. Por muito difíceis que sejam, os comportamentos das crianças têm sempre uma intenção por trás e cabe aos pais tentar percebe-la. É com eles sim, no sentido de que ninguém os conhece como os pais e que são os pais que devem continuar a lê-los, agora numa versão 2.0 desta linguagem que desenvolveram.
Dizer “Não” não é uma tarefa fácil, mas é fundamental nestes momentos pela clareza da informação que comunica.
– Posso comprar este brinquedo giro, giro, giro?
– Não.
– Posso ir à frente no carro?
– Não.
– Vá lá! Vá lá! Vá lá!
– Não.

Como se diz “Não” em três passos?

Passo 1.

O primeiro grande passo que os pais devem dar na direção do “Não”, é olhar para dentro de si
com um olhar atento:
– O que me diz o meu instinto?
– O que acredito verdadeiramente ser o melhor para os meus pequenitos?
– No meu sentir, o melhor que posso dizer ao meu filho é um “não”?

Acreditando os pais que esta resposta é a que trará melhores benefícios ao seu filho, está tomada a decisão e sabem o que têm de dizer.

Passo 2.

Nesta segunda etapa de utilização da palavra “Não”, os pais devem pegar no seu coração, com
cuidado, e coloca-lo ao lado: é hora, de forma assertiva, isto é, num tom claro e seguro, de
dizer “Não”.
Não precisam de se alongar muito. Muitas vezes, os mais pequenos ainda não estão
preparados para compreender a explicação que seria dada, pelo que dizer “Não” porque
simplesmente é aquilo que os pais consideram ser o melhor para os filhos, é o melhor
caminho. Por outro lado, depois da tempestade, vem a bonança e com ela há sempre a possibilidade de explicar a situação com outra calma.

Passo 3.

O passo 3 vem depois do “Não” ter sido dito, e refere-se à tranquilidade que deveria habitar
dentro dos pais no período “pós-Não”. Não é pessoal. É com os pais, mas não é.

Respondendo com honestidade às questões colocadas no primeiro passo, resta aos pais
olharem para estes cenários e cuidarem de si, dizerem a si próprios também de forma clara e
segura que fizeram o seu melhor.

Com esta pequena interdição, os pais limitam o comportamento dos pequenitos, mas alargam-
lhes o horizonte.

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✏️ Numa situação limite, numa situação de tentativa de suicídio ou dificuldade em controlar esse impulso, recorrer ao hospital;

✏️ Fazer psicoterapia. 

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