por que motivo é tão importante os miúdos brincarem?

Quando pensamos em crianças e pais a brincar parece-me que há dois cenários que podem aparecer no nosso pensamento com alguma facilidade. 
Num primeiro cenário é certamente Sábado ou Domingo à tarde. As crianças estão num parque a correr e a rir alto com outros amigos ou crianças que por ali se encontram. O tempo passa devagar, os pais chamam aqui e ali e estão tranquilos. Talvez até possam conversar entre si ou com outras pessoas neste momento. Na grande maioria dos dias este cenário parece impossível, como se fosse um momento de férias distantes.

“Mãe, mãe acorda!”, “Já é de dia!”, “Já podemos acordar?”, “Hoje é dia de quê?”, “Anda brincar!” ou uns olhos grandes, bem abertos e acompanhados com um sorriso de uma orelha à outra. O segundo cenário talvez mais fiel à realidade da grande maioria das famílias.
Ao fim do dia repete-se uma situação semelhante, aceitando os pais brincar por amor e esperando que a brincadeira se desenhe algo como “Posso fazer de bebé a dormir ou de doente desmaiado?”. 

Mas afinal por que motivo é tão importante os miúdos brincarem?

As crianças também têm os seus dias muito preenchidos. Pela manhã mal suspeitam que o sol se distraiu e deixou escapar um raio, saltam a alta velocidade da cama para encontrarem os pais e entrarem na primeira luta do dia:
 “É mesmo difícil levantá-la… Mãe, mãe acorda! Já é de dia! Anda brincar!”. 
Depois segue-se toda a logística e rotina da manhã, as muitas actividades do Jardim de Infância ou da Escola, sendo que, à semelhança dos adultos, há dias em que têm maior ou menor vontade de sair de casa. 
Chegado o fim do dia, à semelhança dos pais, também sabem que o dia correu melhor ou pior, e para isso concorre o seu próprio humor, o das outras crianças com que passaram o dia, das suas professoras ou dos pais. Nesta altura, com mais ou menos energia, as crianças sabem o que as espera na hora de ir brincar:
“Lá vamos nós outra vez… Pai, pai, pai! Anda lá brincar! Por favor! Nem que sejas um bebé a dormir ou um doente desmaiado!”.
Brincar é uma coisa muito séria. Quando uma criança brinca, ela conta as suas histórias, partilha o modo como ela vê os outros, a forma como lhe correu o dia, quais as suas preocupações e as suas curiosidades. A brincar tentam perceber aquilo que vão pensando e sentindo dentro de si, mas que ainda não conseguem explicar por desenhos ou palavras. Repetindo as mesmas brincadeiras vezes sem fim, persistentes, procuram encontrar uma possibilidade de explicação ou uma estratégia nova para determinada dúvida.
“Mãe, mãe, mãe anda brincar!” não é só um pedido de atenção, não é necessariamente um indicador de que a criança não saiba estar sozinha, mas é talvez uma forma carinhosa de dizer “Mãe isto de crescer é tão divertido, mas não faço ideia como é que saio desta dúvida. Anda cá ajudar-me por favor!”.
As crianças sabem algo essencial e que parece ficar para segundo plano em detrimento de preocupações, tarefas e muitas horas de trabalho quando crescemos: é muito importante brincar, é divertido aprender o mundo, é divertido crescer. 
Onde está essa parte de si?